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Faculdade: Uma escolha com o coração


Ao longo dos últimos meses tenho recebido várias mensagens, muitas delas curiosamente de alunos da minha antiga Escola Secundária, curiosos com o meu percurso, do porquê de ter estado dois anos parada, somam-se desabafos de quem não sabe o que quer fazer de futuro e se sente perdido no Secundário. Apesar de há muito querer escrever sobre isto, é um assunto que não gosto muito de falar nem pensar, por muito que saiba o que quero para o meu futuro, na altura de preencher a candidatura há umas semanas para a faculdade, andei a bater mal...

O secundário foi sem dúvida uma das melhores fases da minha vida, onde guardo algumas das melhores memórias, fiz amizades muito especiais, namorei muito, fui a muitas festas, jantares e saídas todos os fins de semana, fiz muitas loucuras, participei em concursos de Gestão, conheci pessoas incríveis que me enriqueceram muito não só com conhecimento, que levarei para sempre no coração: os meus professores, que por sinal me deram sempre muito na cabeça por esta teimosia.

A àrea que segui no secundário foi Economia, porquê? Bem digamos que a pessoa sempre gostou muito, mas muito de liderar, sempre foi fascinada pela gestão, e na altura de fazer os testes psicotécnicos deu 100% para diretora financeira, diretora disto e do outro, basicamente tudo o que envolvia gestão, o que não surpreendeu ninguém na altura. Ir para outra área estava completamente fora de questão.. Ciências? Uma pessoa não pode ver sangue sem desmaiar. Humanidades? A pessoa detesta ler livros que não sejam sobre gestão, liderança emocional ou moda. Artes? A pessoa não tem aquele bom para o desenho. 

Assim foi, fui para Economia, soube que tinha feito a decisão certa a partir da minha primeira aula de Economia, tudo o que lia e o que o professor falava fazia sentido, a cada aula gostava mais daquilo, passava horas a falar com a minha tia sobre o que aprendia, comecei a ler mais sobre empreendedorismo, micro-economia...Estudar Economia, para mim nunca foi considerado estudar, e quando assim é, é meio caminho andado para terem excelentes notas. Sempre me esforcei para ter uma média alta, as médias para uma licenciatura em Gestão numa boa faculdade não são brincadeira. Como qualquer ser humano tenho as minhas falhas e azares dos azares tinha logo de ser a matemática.

Estava tudo mais que encaminhado no meu 12º ano, até que no final do primeiro período o meu namoro de secundário acabou, e resolvi usar a minha teimosia, determinação persistência onde não devia, dias passados a chorar, muitas faltas às aulas, à explicação de matemática... O início do fim literalmente, porque manter notas ao resto foi fácil, agora Matemática? se começam a perder o rumo à coisa esqueçam. Quando sairam as notas do Exame e vi que tinha prejudicado o meu futuro, os meus objectivos, os meus sonhos, tudo aquilo que lutei e quis tanto durante 3 anos, por causa de uma parvoíce, onde em vez de aproveitar a minha persistência, teimosia em mim, nos meus objectivos e lutar pelo meu futuro, usei-a para "lutar" por alguém, foi complicado, não existe pior sensação do que sentir que tinha falhado comigo mesma, ver pessoas com médias bem inferiores às minhas entrarem na faculdade e eu ali em "banho maria" foi muito complicado. Até hoje quem convive comigo evita falar da faculdade 

Claro que isso fez-me ganhar uma força de outro mundo, impulsiva, teimosa, a miúda só aprendeu mesmo a bater com a cabeça e o corpo todo nas paredes.  
 Em 2016 ainda me inscrevi para ficar na escola a repetir matemática, mas acabei por desistir logo no primeiro período, para fazer a equivalência, fazendo Sociologia, mas azar dos azares já não me consegui inscrever a tempo, resultado um ano "parada", e deixo de puder usar o meu exame de Economia como prova de ingresso dada a duração de dois anos do mesmo. 

Mas quem insiste, persiste e não desiste alcança tudo nesta vida, este ano consegui fazer a equivalência acabei com 19 a uma disciplina que nunca tinha tido na vida, repeti o exame e vou finalmente candidatar-me, e não vai ser aquele curso que tanto quis durante 3 anos, a vida dá voltas.

Onde estava a minha paixão por moda no secundário? escondida em trabalhos de todas as disciplinas, da Economia, ao Inglês, à Geografia, Psicologia... Foi algo que sempre evitei pensar em seguir por ser visto com maus olhos, afinal quem gosta de moda é "fútil", "burro", ou porque era meio caminho andado para ir para o desemprego etc etc etc etc...

Nestes dois anos tive e vivi experiências incríveis, tive contacto com tantas pessoas no ramo da Moda, desde criadores e directores criativos, pessoas que trabalham em departamentos de marketing, comunicação de marcas. Percebi que jamais iria ser feliz se não trabalhasse no ramo, que podia fazê-lo tirando o mestrado em Gestão de Marcas de Luxo, afinal unia duas paixões a gestão e a moda, mais especificamente o mercado do luxo, e que talvez uma boa opção era optar por Marketing  uma vez que é um mercado com um comportamento muito próprio, cada vez mais emocional. 

Quando me pedem conselhos sobre cursos a seguir na faculdade, a minha resposta baseia-se no "Segue o teu coração". A vida é muito curta para não fazermos algo que realmente gostamos, passar-mos 8 ou mais horas no nosso dia enfiados num sítio qualquer, a contar horas para sairmos, andarmos frustrados e a trabalhar só pelo dinheiro ao final do mês, uma pessoa assim não chega longe na carreira. Quando ama-mos o que fazemos tudo se torna mais leve, a nossa produtividade é maior,  o mercado de trabalho não é um mar de rosas como o secundário, são muitas responsabilidades, vão ter de aturar muita gente frustrada que a única coisa que quer fazer é lamber botas ao chefe, que para subir é capaz de fazer coisas absolutamente nojentas... O futuro é vosso, a vida é vossa, qualquer escolha influenciada por terceiros pode sair-vos caro.

Lutem, estudem que a média faz-se desde o início , tenham experiências que vão para além das bebedeiras com os amigos e mais que isso pensem naquilo que gostavam de fazer, que se veem no futuro a fazer, isso é algo que infelizmente na escola não acontece, somos quase como uns carneirinhos atrás do sistema onde para sermos alguém temos de ir para engenharia, medicina, direito... Ninguém vai ter sucesso a fazer aquilo que não gosta realmente,tenham espirito crítico, rodeiem-se de pessoas que vos inspiram, com quem possam falar. 

Se a minha decisão foi a melhor, só o tempo o dirá... mas neste momento era aquilo que fazia sentido na minha vida, vou esforçar-me mais uma vez para ser a melhor, dar grandes secas aos professores com trabalhos sobre moda, tentar fazer a diferença, mas sendo sempre verdadeira comigo. O que aconteceu comigo no 12º ano não é exemplo para ninguém, mas foi algo que me fez realmente abrir os olhos, crescer e seguir o que vai cá dentro.